domingo, 13 de janeiro de 2008

Diz que é uma espécie de democracia

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Vendem-se uns edifícios do Estado e o negócio sai ao ex-sócio do ministro que os decide vender, que é também irmão dum deputado do Partido Socialista.
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Há que escolher um novo presidente para a concessionária das pontes de Lisboa e o lugar sai ao ex-ministro que negociou a concessão.
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Pensa-se na vice-presidência dum banco em apuros e o lugar sai a um amigo e ex-sócio do primeiro-ministro.
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Há que contratar um novo presidente para uma estação de televisão concessionada pelo Estado e o lugar sai a um deputado do Partido Socialista.
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Há uma pequena fortuna nos cofres dum governo regional para gastar em consultoria e o negócio sai ao deputado escolhido pelo presidente desse mesmo governo regional.
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Há, enfim, um simulacro de economia e uma suposta classe empresarial que não subsiste se não montada nos privilégios concedidos pelo Estado.
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Nessa medida, é correcto afirmar que o regime democrático português está numa fase de acelerada angolanização.
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Lá, os negócios com o Estado saem ao amigo, ao primo e ao tio. Saem, sobretudo, à filha do chefe, que é como quem diz que saem ao próprio.
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Cá, uma lei impede que as coisas se passem dessa forma tão clara. Mas a ética e a decência - ou a falta delas - são precisamente as mesmas.
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E quando a falta de vergonha passa a ser normal, isso não é um sinal de que a classe política perdeu o norte. É um sinal de que a sociedade, no seu todo, está profundamente doente.
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João Castanheira

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