segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Abortámos!

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O Aborto livre e à escolha do freguês foi, durante anos, a causa maior de uma certa intelligentsia cá do rectângulo, que achava que, naquele acto, se condensava toda a afirmação da mulher enquanto dona e senhora do seu corpo. 

Foi finalmente e à segunda que a causa foi adquirida e que, com tal ensejo, se tornou a mulher, em Portugal, mais livre, mais independente e sobretudo mais dona de si.

Nesta pugna pela liberdade da barriga, o arraso perpetrado sobre o valor primordial da vida humana foi um mero dano colateral.

Naqueles tempos, antes do referendo que tudo libertou, imperava em Portugal uma espécie de, diziam elas e eles, lei medieval (curiosamente similar à que existe ainda em Espanha, essa terra medieva) que oprimia e perseguia mulheres e potenciava o aborto clandestino.

Pois é precisamente neste detalhe, o do aborto clandestino, que acabámos por abortar colectivamente face à muralha da realidade.

Os números que, apesar de quase clandestinos em si mesmos, vão surgindo, não revelam uma descida acentuada deste flagelo e continuam a retratar uma realidade, no que aos mecanismos de realização do aborto concerne, em tudo idêntica àquela que tínhamos antes da nova lei. Ou seja, continuamos na mesma. E isto, tendo em conta a propaganda que esteve na base da aprovação da nova lei, é profundamente chocante!

Actualmente e após quase termos abdicado de políticas de verdadeiro incentivo à natalidade e suporte à família (as medidas entretanto aprovadas neste sentido são uma gota de água face à perda anual na natalidade) temos a aberração de, ao que tudo indica, não termos sido capazes de pôr termo à razão central que sustentava a necessidade desta nova lei. Por isto, é imperioso colocar a seguinte questão. Onde estão, agora que tudo indica que os velhos hábitos se foram mantendo, aqueles que tanto invectivavam a suposta monstruosidade da lei anterior? Já não os preocupa o aborto clandestino?

Enfim, com todas as consequências que daí decorrem e como em tantas outras coisas por cá, ao que parece, a lei do aborto abortou...

Luís Isidro Guarita

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