O país anda, há meses, mergulhado numa depressão profunda e os portugueses têm a vaga impressão de que a classe política se está nas tintas para os seus problemas reais.
Nota-se uma divergência evidente entre as prioridades das pessoas e a cada vez mais fantasiosa agenda política. Parece haver um mundo real, onde circulam os portugueses, e um mundo virtual, onde os governantes se divertem a brincar aos países desenvolvidos.
No mundo real, o petróleo, os juros e o desemprego batem recordes diariamente. No mundo virtual, organizam-se espectáculos “bollywoodescos” para oferecer milhões de computadores aos meninos da escola primária.
No mundo real, todos os dias fecham fábricas de sapatos, soutiens e ceroulas. No mundo virtual anunciam-se fábricas de computadores, aviões e componentes para naves espaciais.
Ontem, o fosso entre os dois mundos agudizou-se, com a declaração ao país do Presidente da República.
O momento era solene. Pela primeira vez, Cavaco Silva decidira dirigir-se formalmente aos portugueses. Os assessores tinham avisado que a coisa era séria.
Às oito da noite, o país sentou-se ansioso em frente à televisão. Teria Cavaco Silva encontrado a solução para algum dos problemas do mundo real? Estaria doente? Iria anunciar a sua demissão? Teria decidido dissolver a Assembleia da República?
O ar grave e sério do Presidente da República conferiu à ocasião um dramatismo insuportável. Portugal ficou com os nervos em franja.
Ao fim de um minuto, percebeu-se que, afinal, o Presidente da República estava preocupado com o número de pessoas que teria que ouvir caso algum dia decidisse dissolver a Assembleia da Legislativa dos Açores.
Tragam os Prozacs, que a gente assim não se aguenta.
João Castanheira
Nota-se uma divergência evidente entre as prioridades das pessoas e a cada vez mais fantasiosa agenda política. Parece haver um mundo real, onde circulam os portugueses, e um mundo virtual, onde os governantes se divertem a brincar aos países desenvolvidos.
No mundo real, o petróleo, os juros e o desemprego batem recordes diariamente. No mundo virtual, organizam-se espectáculos “bollywoodescos” para oferecer milhões de computadores aos meninos da escola primária.
No mundo real, todos os dias fecham fábricas de sapatos, soutiens e ceroulas. No mundo virtual anunciam-se fábricas de computadores, aviões e componentes para naves espaciais.
Ontem, o fosso entre os dois mundos agudizou-se, com a declaração ao país do Presidente da República.
O momento era solene. Pela primeira vez, Cavaco Silva decidira dirigir-se formalmente aos portugueses. Os assessores tinham avisado que a coisa era séria.
Às oito da noite, o país sentou-se ansioso em frente à televisão. Teria Cavaco Silva encontrado a solução para algum dos problemas do mundo real? Estaria doente? Iria anunciar a sua demissão? Teria decidido dissolver a Assembleia da República?
O ar grave e sério do Presidente da República conferiu à ocasião um dramatismo insuportável. Portugal ficou com os nervos em franja.
Ao fim de um minuto, percebeu-se que, afinal, o Presidente da República estava preocupado com o número de pessoas que teria que ouvir caso algum dia decidisse dissolver a Assembleia da Legislativa dos Açores.
Tragam os Prozacs, que a gente assim não se aguenta.
João Castanheira
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