terça-feira, 30 de setembro de 2008

Umas casitas


Como eu percebo o manto de silêncio que, há 30 anos, cobre um dos mais obscenos segredos de Lisboa.
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Ao longo destas três décadas, os pobres foram arrumados em bairros sociais e os remediados enxotados para o inferno dos subúrbios.

Já as 3.200 casas que constituem o apetecível património da autarquia no centro da cidade foram distribuídas, de forma absolutamente discricionária, por intelectuais, dirigentes políticos, funcionários, amigos, filhos e primos.

Entre os beneficiários, contam-se a vereadora Ana Sara Brito, o escritor e jornalista Batista Bastos, a chefe de gabinete do vice-presidente da câmara Isabel Soares ou o director municipal José Bastos. Uma lista que promete revelações aterradoras.

Num país civilizado, a divulgação desta história sórdida faria, necessariamente, rolar cabeças. Num país europeu do século XXI, todas as casas seriam, de imediato, entregues à autarquia, que trataria de as atribuir a famílias carenciadas ou, em alternativa, trataria de as colocar no mercado de arrendamento a preços justos.

Por cá, espera-se que a poeira assente, para que a paz volte ao lar dos felizes contemplados. Veja-se a desfaçatez com que um director municipal fala de uma casa que não é sua: “O meu filho é que mora lá. Não tenho dinheiro para lhe comprar uma casa nova... Além disso, é a minha casa de reserva. Se amanhã tiver de me separar, para onde vou?”.

É o drama, a tragédia, o horror. Atingimos o grau zero da decência. A generalidade dos portugueses, que não pode oferecer casas aos filhos nem tem apartamentos de reserva - pelo menos públicos - assiste incrédula a este espectáculo pornográfico.

Julgo que o país não perdoará a António Costa se esta sujeira não for rapidamente limpa. Custe a quem custar.

João Castanheira

sábado, 27 de setembro de 2008

Nós na terra e o Sr. Chavéz nas alturas


Ao que parece, e chegado pela calada da noite, o Sr. Chávez passou outra vez aqui pela West Coast para deixar por cá mais uns cobres para a malta.

Começa, portanto, a ser um hábito sermos visitados pelo homem da camisola vermelha, o que, convenhamos, é, só por si, uma belíssima imagem da modernidade com que nos veste este nosso governo.

Claro está que há uns pequenos detalhes que, para lá do óleo viscoso que o Sr. transporta, tendem a dar um tom um tanto bafiento a esta modernidade hiper progressista, mas pronto, nada que um bom negócio com o hermano de além mar não resolva.

Contudo e porque na verdade a coisa começa a raiar a estupidez, é caso para perguntar, não haverá na malta que estende, em representação de todos nós, os braços ao Sr. Chávez, um pingo de vergonha para perceber que os abraços que se estão a dar abraçam um ditador?

Luís Isidro Guarita

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

E que viva o Capitalismo!


O Arrastão já rende!

Não é o da Pesca é o do Daniel, o blog.

Ele há coisas do arco da velha, então não é que o blog do Daniel, o Arrastão, também tem pub! Fixe não é?

E já agora, que pub tem o Arrastão? Tem pub a uma empresa de concessão de crédito - dinheirito a troco de juros, malta -. Não é baril? Cool mesmo! O Daniel ganha umas massas com o blog, e logo à conta do capitalismo especulativo. O Daniel é mesmo esperto, não é?

Por um lado debita e destila impropérios contra essa malta gananciosa do subprime e coisa que o valha e por outro recebe o carcanhol da malta da concessão de crédito ao pessoal que anda teso e que necessita de uns trocos para o Plasma HD. É mesmo de génio, não acham?

E já agora e aqui para a malta do Num Lugar, não há por aí nenhum patrocínio disponível? Nós também vociferamos contra o que for preciso. A sério!

Luís Isidro Guarita

Sur les Pavés, la Plage!

É oficial, Portugal tem, finalmente, o seu Maio de 68!

Se os Cohn-Bendits daqueles tempos gritavam que era proibido proibir, as Lurdes Rodrigues de hoje gritam que é proibido chumbar. E que bem que soa, não é?

Acabemos então com o velho mundo e escancaremos as portas ao novo, até porque a acção não deve ser uma reacção - antes que umas quaisquer estatísticas nos estraguem o arranjinho -, mas uma criação e é tempo, por isso, de dizer que a imaginação tomou o poder. E que melhor imaginação que imaginar que por decreto, todos somos génios? Lindo, não é?

E assim foi, o sonho glorioso da educação em Portugal aboliu essa coisa do passado que era o chumbo e decretou a excelência. Não há tempo a perder, avancemos que o futuro espera por nós, algures entre a indigência e a estupidez colectiva, há um amanhã e um novo Maio que canta.

Cantemos pois, cantemos e sejamos realistas, exijamos o impossível... É que a Sra. Rodrigues não o fez por menos!

Luís Isidro Guarita

Carlos V e o futuro, ou a viagem de Fernão de Magalhães contada à pequenada, 500 anos depois e através do Classmate.

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Pronto, já está, a coisa resolve-se de uma penada e de caminho, entre festança e festarola, lá vamos, alegres e contentes, observando a trupe que passa com o seu elixir da saúde eterna, neste caso educação imediata.

De norte a Sul, de Miranda do Douro à Figueira da Foz, de Barrancos a Matosinhos, lá anda o Sr. Ministro da Economia da West Coast de braço dado com a Sra. Ministra da Educação distribuindo, em glória, a iluminadíssima solução para todos os males da criançada indígena. 

A coisa, azul, parecida com um tal de Classmate e que dá pelo nome de Magalhães - ao que parece um Sr. cá da nação que há coisa de 500 anos vendeu os seus serviços a um tal de Carlos V, à data e ao que parece também, Rei de Castela, um sítio que mais coisa menos coisa agora dá pelo nome de Espanha e que, pelo caminho e algures no actual arquipélago das Filipinas se deixou morrer sem nunca completar o serviço que havia prometido a sua Majestade Imperial - é, de acordo com os óraculos, a solução porque todos ansiávamos! 

Não vem com o nevoeiro, isto apesar de há dias ter reparado, confesso, uma certa neblina numa das muitas viagens do ministro da West Coast, mas vem do dinheiro que muita gente, com certeza mal intencionada, acharia que se deveria gastar a dotar as nossas escolas dos meios de que tanto e em tantos sítios carecem, mas isso são contas de outro rosário e os Ministros têm pressa...

Mas voltemos ao que interessa e deixemo-nos de pormenores. É um facto, o Classmate, perdão, Magalhães, é a circum-navegação, desculpem, solução que estávamos à espera. A partir de agora não há que temer, sejam nativos da ilha de Mactan, sejam putativos chumbos. Tudo isso e de acordo com a verdade oficial é história, o futuro agora é outro e está na ponta de um teclado. Aproveite pois, caro concidadão, e ponha as criancinhas a navegar. Reze, no entanto, para que não fiquem pelo caminho, como o outro, e lhes apareça depois lá em casa um tal de Elcano a dizer que o mundo é mesmo redondo. É que ele de facto é, só que nem sempre o é para todos... É que há alguns, como esse tal de Magalhães, o de há 500 anos, que ficam pelo caminho.

Luís Isidro Guarita
 

Podemos estar descansados

A ASAE, organismo que se especializou na apreensão de bolas de berlim e colheres de pau, emitiu ontem um comunicado onde afirmava que “a importação de leite e produtos lácteos provenientes da China é proibida na União Europeia desde 2002”, acrescentando que “não possuiu qualquer evidência de que possam ter ocorrido exportações ilegais para Portugal”.

No mesmo dia, o Público foi às compras e, sem ter que procurar muito, adquiriu iogurtes líquidos e bebidas de leite chinesas, num supermercado da cidade do Porto.

Podemos estar descansados.

João Castanheira

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Eu não lhes acho piada nenhuma...


Após o colapso do comunismo, muita gente passou a olhar o PCP como uma organização simpática e inofensiva. Uma espécie de penacho no chapéu da democracia portuguesa, tantas vezes útil por incomodar o poder instalado.

O rosto humano de Jerónimo de Sousa, que ao contrário de Cunhal se deixa filmar a dançar o vira e a chupar sardinhas assadas, quase faz esquecer os milhões de vítimas do comunismo. Foram gerações inteiras sujeitas à miséria, à tortura e à morte, em nome dos ideais criminosos que esta gente continua a defender.

Uma gente que esteve à beira de empurrar Portugal para o abismo de uma feroz ditadura de inspiração soviética. Uma gente que finge não ter visto o irreprimível grito de liberdade que varreu a Polónia, a RDA, a Checoslováquia, a Hungria ou a União Soviética. Uma gente que ainda hoje acredita – ou diz acreditar – que o futuro da humanidade está na Coreia do Norte ou em Cuba.

Leia-se o projecto de Teses do XVIII Congresso do PCP, onde entre outras preciosidades se escreve: “Importante realidade do quadro internacional, nomeadamente pelo seu papel de resistência à «nova ordem» imperialista, são os países que definem como orientação e objectivo a construção duma sociedade socialista – Cuba, China, Vietname, Laos e R.D.P. da Coreia.”

Tivesse esta gente a possibilidade de assumir os destinos do país e Portugal acabaria, irremediavelmente, como uma espécie de Cuba da Europa. E, apesar do rosto humano do camarada Jerónimo, muitos de nós acabaríamos, no mínimo, presos.

É por isso que eu não lhes acho piada nenhuma...

João Castanheira

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Alguém me acertou com um Magalhães


Socorro! Escondam as crianças na cave.

Anda por aí uma turba ululante a atirar Magalhães à cabeça dos nossos pequenos.

Parece que o próprio primeiro-ministro e mais dez governantes decidiram tirar o dia para arremessar milhares de "PlayStations" à testa da criançada. O governo em peso está a correr o país, de lés a lés, com as câmaras de televisão às costas.

Agora é que isto vai. Este ano, os nossos jovens já tinham sido atacados por um surto de inteligência fulminante, que cortara drasticamente os chumbos e elevara ao zénite as médias em todas as disciplinas.

Agora, com o Magalhães, a meta é zero chumbos - ministra da educação dixit. A partir de hoje, nenhum português vai reprovar. O chumbo foi oficialmente banido do nosso sistema de ensino. Todos os alunos serão classificados com um 40, numa escala de 0 a 20. O Eurostat que embrulhe esta estatística.

E mais: se o Partido Socialista continuar no governo, dentro de poucos anos cada criança sairá da maternidade - mesmo em Badajoz - com um Magalhães e um douturamento honoris causa às costas.

Podemos transformar-nos num país de brutos e analfabetos, mas seremos todos diplomados.

Connosco, no caminho para a construção do homem novo, estarão a Namíbia e a Venezuela, nações prósperas e luminosas que já aderiram à distribuição gratuita do Magalhães.
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A este tridente de ataque, que se prepara para dominar o mundo no século XXI, falta juntar o Zimbabwe.

João Castanheira
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PS: a partir de sábado há Magalhães à venda na Feira da Ladra.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

A globalização somos nós!

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Ontem, num texto notável escrito nas páginas do Público, Rui Ramos demonstrava o quanto muito do que hoje em dia se está a passar no mundo financeiro se deve à democratização do acesso, pelas famílias, a recursos financeiros inimagináveis até há bem pouco tempo que, por via do crédito fácil, mas sobretudo barato, lhes proporcionou a possibilidade de obterem bens e serviços a que, em condições diferentes, jamais teriam acesso. Mas não se tratou apenas de obter esses bens e serviços, tratou-se, igualmente, de manter, através desse crédito, níveis de vida por vezes incompatíveis com os rendimentos de que efectivamente dispunham. E foi aí que a bolha começou a esvaziar.

Este simples facto é, nas suas múltiplas dimensões e como tão claramente nos explica Rui Ramos, a verdadeira face da globalização. Por muito que grupos e grupelhos por esse mundo fora gritem à frente de um microfone ou câmara de televisão os chavões do momento contra o papão da globalização e os seus demónios na forma de multinacionais que tudo exploram e tudo submergem aos seus interesses, foram também esses mesmos papões e demónios que permitiram a manutenção e até elevação da qualidade de vida de muitos dos que, pelos fóruns do mundo, vociferam o seu ódio contra o planeta global.

Mas a verdade é esta, a globalização somos nós. Sem ela, o mundo poderia não ser o mesmo, mas seria, sem dúvida, um mundo pior.

Luís Isidro Guarita

Que tal pedir a ajuda de Luanda?

Ainda sobre a falta de transparência na formação do preço dos combustíveis, em particular no caso da Galp, talvez esteja na hora pedir a intervenção do Governo.

Não me refiro ao português mas sim ao angolano!

Nestas coisas, é melhor falar com quem manda.

João Castanheira

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Lula e os outros.

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Se não me engano, Luís Inácio Lula da Silva foi eleito presidente do Brasil à quarta, após derrotas com Fernando Collor de Melo e Fernando Henrique Cardoso.

Lula da Silva, como habitualmente é conhecido, vem do PT, partido dos trabalhadores, de inspiração comunista, mas tem sido, na prática, um presidente socialista, na linha de alguma social democracia europeia. Neste pormenor, entre ele e outros dessa mesma área que povoam a América do Sul, há um universo de distância.

Onde Lula é ponderado, sensato e, sobretudo, actual na interpretação que faz do mundo que o rodeia, os outros são excessivos, prepotentes e, mais grave, revanchistas.

Lula é por isso e apesar das enormes diferenças ideológicas que tem para com os autores deste blog, um oásis num continente onde começa a abundar a loucura política.

Desta evidência são exemplo perfeito os mais recentes acontecimentos na Bolívia. Naquele país onde se exigia ponderação e inteligência para a resolução dos enormíssimos problemas que o afligem, há, nestes dias, o oposto. E isto acontece fundamentalmente por duas razões. Porque há um presidente que ao invés de fomentar o diálogo fomenta a dissolução das partes em confronto e assume-se como líder de facção. E porque há, no norte do continente, sentado sobre um barril de petróleo, um demente que dedica os seus dias a despejar petróleo desse barril pelo continente para em seguida o atear.

A actuação de Lula na recente cimeira de países Sul-Americanos e a sua postura perante a quase guerra civil que se abateu sobre a Bolívia revela, só por si, a enorme diferença entre ele e os outros presidentes do continente, mas revela, sobretudo, que hoje o Brasil é, de facto, a maior potência da América do Sul, seja pela sua dimensão e riqueza, seja, essencialmente, pelo exemplo dos que o governam.

Uma nota final. É curiosa a notória indiferença com que a esquerda portuguesa trata Lula e adula Chávez e Morales. Este detalhe, pelo que contém, revela muito do que esta esquerda hoje de facto é...

Luís Isidro Guarita


Especulação e ignorância


A cotação do petróleo está hoje ao mesmo nível a que estava em meados de Dezembro de 2007. Mas cada litro de combustível custa agora mais cerca de 10 cêntimos do que custava naquela altura.

É óbvio que o mercado nacional dos combustíveis rodoviários não funciona. E não funciona porque é dominado por 3 empresas – a Galp, a Repsol e a BP – que repartem entre si mais de 80% do mercado. Como nenhum destes operadores está disposto a ganhar quota de mercado à custa duma política agressiva de preços, a concorrência não passa de uma miragem.

Ainda que informalmente, vigora no mercado dos combustíveis um pacto de não agressão, que é do interesse das empresas e dos seus accionistas. O presidente executivo da Galp, um dos mais competentes gestores deste país, está por isso a cumprir o seu papel.

Já o mesmo não se pode dizer da Autoridade da Concorrência, que se limita a constatar não existirem provas concretas de cartelização. Ora, mal estaríamos se as petrolíferas precisassem de se reunir ou trocar correspondência para combinar preços!

Dito isto, é também surpreendente a ignorância com que esta matéria é abordada pela maioria dos órgãos de comunicação social e até por alguns alegados especialistas em energia.

Dizia hoje um dos tais especialistas que, se ao longo dos últimos 2 meses a cotação do crude caíra 40%, o preço dos combustíveis deveria ter baixado em igual percentagem.

Ora, esta afirmação revela uma ignorância atroz, pois, como se sabe quase 60% do preço da gasolina corresponde a impostos cobrados pela Estado (ISP e IVA). Logo, uma descida de 40% no preço do crude poderia, no limite, produzir uma redução de cerca de 16% no preço da gasolina e nunca de 40%!

O problema é que, até agora, a redução se ficou pelos 5%...

João Castanheira

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

A Quinta do Ambrósio


A Quinta do Ambrósio é o paradigma de um certo Portugal.

Aqui há uns anos, aquela propriedade do concelho de Gondomar foi transaccionada por 1 milhão de euros, um valor baixo, já que o terreno estava afecto à Reserva Agrícola Nacional, não tendo, por isso, capacidade construtiva.

Seis dias após a transacção, a quinta – que já não era do Ambrósio – foi vendida a uma empresa pública, a STCP, pelo valor de 4 milhões de euros. Com a garantia de que seria desafectada da Reserva Agrícola Nacional. E foi mesmo.

Ao ganhar capacidade construtiva, o terreno viu o seu valor multiplicado por quatro, gerando em poucos dias uma mais-valia de 3 milhões de euros.

Essa mais valia foi paga pelos contribuintes, que todos os anos são convidados a financiar, através dos impostos, o défice crónico da STCP.

E onde foram parar estes milhões?

Citando o que escrevem hoje vários órgãos de comunicação social, aos bolsos de um dos filhos do Presidente da Câmara de Gondomar, do Vice-Presidente da mesma autarquia e de um ex-dirigente do Boavista. Gente com queda para o negócio.

Às vezes penso que, por um qualquer capricho da natureza, Portugal acabou plantado a norte do continente que lhe estava destinado.

João Castanheira

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

O fim da linha

Ontem, um homem descarregou a pistola em cima de outro, deixando-o às portas da morte.

O crime ocorreu no interior duma esquadra da PSP, o que começa a ser normal aqui pela West Coast of Europe.

Hoje, o juiz de instrução criminal do Tribunal de Portimão colocou o homicida em liberdade.

O agressor poderá assim deslocar-se ao hospital para completar o serviço. Quer-me parecer que quem dispara 5 tiros no interior duma esquadra, não verá problema de maior em aviar mais 2 ou 3 na unidade de cuidados intensivos do Hospital de São José.

É devido um agradecimento a este juiz, que expôs ao ridículo as leis penais que vigoram neste WC da Europa. Leis que, invariavelmente, protegem o bandido e abandonam a vítima à sua sorte.

O último a sair que apague a luz...

João Castanheira

Agora é que isto vai

Aos poucos, os vereadores da oposição de esquerda na Câmara Municipal de Lisboa vão caindo que nem tordos.

E se Sá Fernandes ainda conseguiu sacar um pelouro, Helena Roseta não obteve mais do que dois projectos.

A cidade está particularmente empolgada com uma coisa de nome “Lisboa, encruzilhada de mundos”, que visa “colocar a capital na vanguarda da implementação de políticas intermunicipais de cooperação e desenvolvimento”. Seja lá o que isso for. Ou, segundo outras fontes, promover o “desenvolvimento do diálogo intercultural”.

Agora que há dinheiro para gastar em palhaçada, já estou a ver o Terreiro do Paço repleto de animadores culturais e malabaristas a cuspir fogo. Com muito reggae, kuduro e cheiro a erva.

Assim como assim, nada pode ser pior do que um desastre chamado Carmona.

João Castanheira

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

O plebiscito

O MPLA parece ter obtido 82% dos votos nas eleições legislativas angolanas.

É um bom resultado, que se bate, sem complexos, com os 88% conseguidos em 1969 por Marcello Caetano.

Mas as verdades têm que ser ditas: o resultado do MPLA fica aquém dos 96% alcançados pela família Castro em Cuba ou dos 100% que Kim Jong Il costuma sacar nas eleições da Coreia do Norte.

O facto, inesperado, da oposição ter conseguido alguns votos, convida a um exercício de autocrítica.

Ainda assim, para evitar qualquer leitura distorcida da realidade, aqui ficam os títulos de algumas das muito diversificadas notícias difundidas pela ANGOP, a agência noticiosa oficial do MPLA, perdão, de Angola.

“UNITA sem razões coesas para impugnar eleições”
“Constitucionalista considera inexistentes razões para impugnar”
“Cardeal descarta razões para impugnar eleições”
“Líder religioso considera eleições exemplares”
“Parlamentar cabo-verdiano considera eleições livres”
“IASED considera eleições livres, justas e transparentes”
“Governo Luso saúda Angola pelo civismo nas eleições”.

João Castanheira

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Ainda a Polónia

Aqui ficam mais alguns lugares encantados de um país fabuloso.


Zamosc, cidade Património Mundial da Humanidade

Wroclaw, capital da Baixa Silésia

João Castanheira

Alternância democrática? Isso é coisa de colonialistas...


A respeito do processo eleitoral angolano, aqui ficam duas frases lapidares do José Manuel Fernandes, retiradas do editorial de hoje do jornal Público.

É por estas (verdades) e por outras que o Público foi proibido de entrar em Angola.

“Não é por acaso que se considera que uma democracia aberta e liberal é o regime em que os cidadãos podem despedir os seus governantes de forma pacífica, algo que nunca ocorreu em Angola... É que só nessa altura se vê se esta é genuína ou se corresponde a uma fachada para descansar as consciências ocidentais, só nessa altura se sabe se os países são capazes de trocar de governo sem sobressaltos (como em Cabo Verde) ou se a democracia entra em crise quando o poder instalado se sente ameaçado (como no Zimbabwe)”.

“Todos os que olham para as riquezas de Angola e sempre fecharam os olhos às comissões que se pagam aos políticos angolanos estarão por certo na primeira linha dos que proclamaram estas eleições como livres e justas”.

João Castanheira

Cautelas e caldos de Galinha

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Ontem, penso que na inauguração da primeira farmácia hospitalar portuguesa, o Sr. Primeiro Ministro anunciou que brevemente estará disponível a venda em unidose de medicamentos. Uma boa notícia e um avanço considerável face à irracionalidade da venda actual. 

Contudo, e na mesma comunicação, tivemos, para além do climax com que nos presenteou o Sr. Primeiro Ministro, o anticlimax da Sra. Ministra da Saúde que nos fez baixar à terra e explicou que esta medida está a ser tomada com enormíssimas cautelas e apenas a título experimental. Diria eu, não vá o diabo tecê-las.

Mas na verdade e pensando bem nisto, o que raio poderá o diabo tecer nesta medida que obrigue a tantas cautelas? Não é absolutamente do domínio do bom-senso que quando um médico prescreve ao seu paciente medicação o faça na dose exacta que este necessita para debelar o seu mal? Faz sentido continuar a comprar caixas cheias de pequenos comprimidos para depois tomarmos apenas uma parte e deixarmos o resto lá no armário da farmácia de casa? Seria normal que quando fôssemos comprar um artigo qualquer nos víssemos obrigados a comprar o caixote por inteiro em vez de comprarmos apenas aquilo de que necessitamos?

De facto há cautelas estranhas, isto porque noutros países, onde a unidose é prática habitual, tais cautelas há muito foram ultrapassadas, a bem do consumidor/paciente e a bem das finanças do estado que subsidia o doente. Mas pronto, cá na West Coast estas coisas requerem muito estudo, ponderação, reflexão, introspecção e sobretudo, pedido de autorização àqueles que beneficiam largamente com estas práticas. Esses, como diria o Octávio, vocês sabem quem são e do que estou a falar.

Luís Isidro Guarita  

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Para Viana, rapidamente e em força!


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Há edifícios que me fazem levantar do sofá...
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É o caso do Hotel Áxis Viana, projectado pelo Arq. Jorge Albuquerque. Ou a nova Biblioteca Municipal de Viana, um projecto de Álvaro Siza.
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Duas obras-primas que convidam a visitar a capital do Alto Minho.
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João Castanheira

Esperança


Por estes dias, o mundo tem os olhos postos em Angola.

Há hoje, como havia em 1992, uma enorme esperança de que as eleições representem o salto definitivo rumo ao futuro.

Eu partilho dessa esperança, porque acredito que entre os despojos da guerra e os tentáculos da corrupção, há em Angola uma sociedade civil que emerge.

Partilho dessa esperança, porque acredito na força regeneradora das novas gerações, que depois de experimentarem a paz, querem agora partilhar a prosperidade que anda por ali à espreita.

É certo que há 16 anos as coisas acabaram mal.

É certo que se a vitória do MPLA não estivesse garantida, jamais teriam sido marcadas eleições.

É certo que não pode esperar-se que sejam os corruptos a pôr fim à corrupção.

É certo que os sinais que chegam de Luanda são inquietantes – os principais órgãos de informação portugueses foram proibidos de entrar em Angola para acompanhar o processo eleitoral

Mas apesar de tudo, quero acreditar no futuro de Angola.

João Castanheira

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Sabonetes à venda...

Por detrás do brilho esplendoroso da imagem mediática. Por detrás do apelo sedutor da retórica discursiva. Por detrás do fascínio reconfortante do multiculturalismo finalmente chegado à política há Obama e um enorme deserto de ideias.

Para além do eu – tipo aqui estou eu tão belo para vos governar, pouco sobra do candidato democrata que, na essência do que tem dito, mais parece uma nova espécie política de Maria vai com todas, onde o vai significa a adesão imediata ao que for politicamente correcto no momento e o todos, todos aqueles que nesse instante mediático sirvam os interesses políticos em causa. Em Portugal temos há 3 anos a versão não étnica desta súmula da moderna esquerda. Chama-se José Sócrates e deu no que deu.

Na verdade e para além do brilho ofuscante do sabonete que nos é vendido, Barack Obama não é mais que isso mesmo. Um produto dos tempos. Um político expresso à medida da necessidade de salvação in-extremis que a esquerda vinha pedindo. Este é o tipo de político/ícone que se enquadra perfeitamente na velocidade consumista das sociedades actuais, onde 15 minutos de fama valem muito mais que 15 anos de preparação intelectual e política.

A esquerda, com Obama, atingiu o seu zénite. Do grande gigantismo ideológico com que quase nos soterrou nos séculos XIX e XX, ao anão político de ideias a que chegou nestes primórdios do século XIX, bastou um muro cair.

Obama é por isso, na imagem, mas sobretudo no conteúdo, a síntese perfeita de uma certa forme de vivre à la gauche. Um eu desmesurado, bonito por fora mas oco por dentro.

Luís Isidro Guarita 

Os “mauzões” que por aí andam!


Há dias, nas páginas do Público, Francis Fukuyama escrevia que apesar de por aí haver muitos “mauzões” que abominando a democracia e as sociedades capitalistas e liberais se delas servem para jogar o seu jogo autoritário a realidade é que estes autocratas pós-modernos revelam, por comparação com os seus antecessores, uma debilidade ideológica que os coloca vários patamares abaixo na perigosidade que potencialmente representam para as democracias.

Na verdade e apesar de as fontes do mal de hoje, com excepção das que bebem no radicalismo medieval islâmico, pouco ou nada terem que ver com aquelas que se serviram de ideologias criminosas como o nazismo e o comunismo estalinista, há por muitos cantos desse globo muitos lobos travestidos de cordeiros.

Espécies como a que deu origem aos Chávez deste mundo encontram nas águas tranquilas das democracias triunfantes o ambiente ideal para fazerem medrar a sua mal disfarçada intolerância e declarada arrogância, servindo-se desses mares para construir, na ilusão do jogo democrático, as mais perversas e perigosas ameaças à democracia liberal.

Houve, de facto, ideologias que morreram. Há, no entanto, um mal que perdura.

Luís Isidro Guarita 

Uma viagem pelo maravilhoso que ainda há em nós

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Apanhar o comboio na Covilhã às seis da tarde de um dia de Verão a caminho de Lisboa é passar 4 horas a viajar pelo maravilhoso que ainda há em Portugal.

Quando, entre o último quartel do século XIX e o primeiro do século XX, se construíram algumas das mais belas linhas de caminho de ferro em Portugal, aproveitando, em muitos casos, as “estradas” deixadas pelo rios, construiu-se um património único que faz com que uma simples viagem de comboio se transforme num prazer indescritível.

Ao sair da Covilhã e após contornarmos a Serra da Gardunha, com as suas cerejeiras do outro lado da janela, avançamos ao longo da Beira Baixa a caminho das águas do Tejo que nos surgem, após a estação de Ródão, enquadradas numa beleza inigualável por dois gigantes de rocha que dão pelo nome de Portas de Vila Velha de Ródão. Apesar de já há alguns quilómetros o Tejo ter chegado a terras portuguesas é ali, naquele pedaço assombroso de natureza, que nos entra portas a dentro e se espraia a caminho da planície ribatejana até encontrar Lisboa e o mundo.

A partir dali é uma paisagem de cortar a respiração que nos vai passando pela janela, desde as encostas abruptas ao rio que corre manso até à primeira barragem, a do Fratel, são quilómetros de natureza que nos enchem os sentidos. Depois do Fratel, o rio estreita e torna-se, por alguns momentos, torrencial. As águas, sob o olhar dos Grifos que por aqui ainda cruzam os céus, lá vão até que a mansidão anunciada de Belver lhes abraça os ímpetos para pouco depois as libertar a caminho de Abrantes para onde correm sob o olhar atento da central do Pego e se lançam, pouco depois, para essa ilha fantástica e altaneira, que qual farol do mundo, em Almourol, guarda o Tejo e guarda a nossa memória.

Daqui para a frente é a planície que se abre diante de nós, quilómetro a quilómetro, enquanto no fim do horizonte o Sol parte para ocidente e a noite se deixa cair sobre Lisboa.

Viajar de comboio é ainda um enorme prazer que aos poucos e pela estupidez dos homens neste rectângulo sobranceiro ao Atlântico se vai tornando uma miragem. Aproveitem e conheçam o maravilhoso que ainda vos pode entrar pela janela ao vosso lado antes que outra locomotiva algures descarrile e descarrile também toda esta inigualável herança que os nossos avós nos deixaram.

Luís Isidro Guarita

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Oskar Schindler


Como aqui escrevi há dias, Cracóvia é hoje uma das mais belas e luminosas cidades da Europa.

Quem visita a capital cultural da Polónia, não pode imaginar o que ali se passou durante a ocupação Nazi.

Depois de visitar a cidade, decidi ontem rever A Lista de Schindler, obra-prima de Spielberg, galardoada com sete Óscares da Academia em 1994.

O filme retrata, de forma brilhante, a perseguição aos judeus de Cracóvia, a construção do ghetto, a sua eliminação na noite de horror de 13 de Março de 1943 e a deportação dos sobreviventes para o campo de concentração de Plaszow, nos arredores da cidade.

A Lista de Schindler relata, sobretudo, a comovente história de um homem grande. Quem salva uma vida, salva o mundo inteiro e Oskar Schindler salvou 1.100 pessoas.
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Na fotografia que ilustra este texto, Oskar Schindler surge entre alguns dos operários judeus que salvou do Holocausto.
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O portão da fábrica de Oskar Schindler permanece ainda hoje na Rua Lipowa, mesmo ao lado do antigo ghetto.
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João Castanheira

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Os complexos de esquerda estão a matar Portugal

Há uma pergunta que tantas vezes fazemos e para a qual temos dificuldade em encontrar resposta: se os portugueses conseguem afirmar-se em qualquer lugar do mundo, a que se deve afinal o nosso crónico insucesso enquanto país?

O problema, creio eu, é que depois de 40 anos de autoritarismo de direita, Portugal vive há mais 30 anos mergulhado em complexos de esquerda.

Veja-se o exemplo da educação.

Todos temos a noção de que a escola só funciona se existir uma cultura de exigência, mérito e rigor. É por isso que, podendo fazê-lo, todos os pais optam hoje por inscrever os seus filhos em boas escolas privadas, onde esses valores prevaleçam.

Mas a verdade é que, apesar desta evidência, os complexos de esquerda têm conduzido sucessivos governos a afundar a escola pública na anarquia e na mediocridade.

O facilitismo e o igualitarismo, marcas indeléveis da nossa esquerda, estão aos poucos a matar o ensino, produzindo gerações de portugueses impreparados para enfrentar os desafios do mundo actual.

Veja-se o exemplo da segurança.

Todos temos a noção de que o excesso de garantias conferido aos marginais colide com o interesse dos cidadãos e impede a sociedade de se defender convenientemente do crime.

Mas a verdade é que, apesar desta evidência, os complexos de esquerda têm levado sucessivos governos a amaciar as leis penais, mergulhando o país numa inquietante espiral de criminalidade.

A desculpabilização, marca indelével da nossa esquerda, está aos poucos a coarctar a liberdade dos cidadãos.

Veja-se, aliás, o que a própria esquerda diz sobre a sua incapacidade para lidar com os problemas de segurança. Assume hoje o Daniel Oliveira no seu blogue que a esquerda tem dificuldade em falar da criminalidade de rua, como os roubos e os assaltos. E justifica esta dificuldade, afirmando que a esquerda desconfia do Estado e desconfia ainda mais da polícia.
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É por isso que Bloco de Esquerda defende que os agentes da autoridade andem desarmados!

Os complexos de esquerda estão a matar Portugal.

João Castanheira