segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Afinal, para que serve o Banco de Portugal?

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A pergunta impõe-se! Primeiro o BCP, agora o BPN, em seguida o que será?

Ao longo destes últimos anos há, no mundo da alta finança, algo que nos surge cada vez mais nítido. Em Portugal não existe regulação do sistema financeiro! É triste, mas é verdade!

Já não são casos isolados, já não é uma qualquer Dona Branca de vão de escada, são bancos, bancos enormes, com milhares de clientes e milhões em depósitos que, amiúde, nos surgem envoltos numa neblina incompreensível e impenetrável, onde as fronteiras da legalidade se parecem esbater a cada nova notícia e onde as poupanças de milhares de famílias se esvaem numa folha de balanço. E isto, isto é deveras inacreditável num país que se encontra na União Europeia e pertence ao clube do Euro. É que não se trata de uma crise financeira internacional, trata-se de uma gigantesca crise de gestão, de má gestão, ou melhor ainda, de gestão danosa e muitas das vezes a roçar o criminoso que nos envergonha colectivamente e que deveria embaraçar profundamente as mentes dos que, nas cátedras do Banco de Portugal, são responsáveis por observar e regular este estado das coisas. Mas não, nas bocas daqueles senhores tudo isto soa a normal, em boa verdade, aquilo que aquelas bocas proferem sobre estas normalidades soa, ele mesmo, àquela conversa das crianças que, inocentemente e perante o problema, afirmam que não sabiam. Quem é que não se recorda da rábula do genial Herman José a afirmar à professora na Escola que não sabia nada!

Tudo isto seria risível se não fosse trágico!

Ontem, ao observar o Sr. ministro das finanças a tentar explicar a necessidade de cada um de nós passar mais um cheque para pagar um problema que, apesar de detectado não está ainda completamente diagnosticado - isto significa tão somente que o cheque é em branco -, tive pena, pena de mim próprio e pena do ministro que, na sua imensa magnanimidade, lá terá que perdoar novamente o Sr. que se sentava ao seu lado o qual, apesar de responsável pela veneranda instituição que tinha a responsabilidade de impedir que eu tivesse que pagar mais este cheque, parecia estar ali como se viesse de outra dimensão, de outro mundo onde, pelos vistos, estas coisas não acontecem e onde o cargo de Governador de uma instituição com as responsabilidades do Banco de Portugal é uma mera sinecura, uma espécie de prémio de fim de carreira, que a nada obriga.

E também tive pena do Eng. Sócrates, que mais uma vez se vê obrigado a engolir outro sapo do tamanho do mundo. É que os juros que há bem pouco tempo tínhamos que pagar pela subida da dívida pública, caso houvesse necessidade de intervenções desta natureza, mas que não podíamos, nas suas palavras, e bem, diga-se de passagem, são agora a multiplicar.

Mas aquela conferência de imprensa e os factos que a ela levaram foi, na frieza dos números que nela se verteram, mais um sinal da absoluta falência moral em que cada vez mais nos encontramos e da incomensurável ligeireza com que em Portugal se assumem e interpretam os lugares públicos. Será que não há, em Portugal, uma fronteira a partir da qual a demissão se exige? Não foi, no caso da inexistente supervisão do Banco de Portugal, essa fronteira há muito ultrapassada?

A verdade é que mais do que problemas no sistema bancário, este caso BPN revela o quanto caminhamos à beira do precipício sem qualquer rede e o quanto aqueles que nos deveriam dar as garantias de que nada disto seria possível, apenas nos conseguem dar a sensação que com ou sem eles, o resultado é sempre o mesmo.

Há coisas que deviam ser inquestionáveis, a fiabilidade e segurança do Banco de Portugal deveria ser uma delas, mas pelos vistos não, pelos vistos o banco, de Portugal, só mesmo o nome. 

Assim sendo, o melhor mesmo é aguardar pelo próximo Euromilhões e fazer figas...

Luís Isidro Guarita

P.S. Já agora, porque será que fiquei com a sensação de que na conferência de imprensa onde supostamente se salvavam os depósitos dos depositantes do BPN se estava também a salvar o empregozinho do Sr. Governador?
 

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